Finados

Finados

Por: Pe. Luís R. Batista C.Ss.R.

Em 2020, dá a impressão de que Finados foi o ano todo. Não bastou o dia 2 de novembro para recordar os mortos. A possibilidade de adoecer e o tema da morte iminente não nos deixam sossegados nesse tempo da COVID-19. Fomos obrigados a lidar com esse tema todos os dias. Inúmeras pessoas fizeram a despedida de familiares, amigos, conhecidos e tantos entes queridos, nesse contexto de pandemia que assola a humanidade. A verdade é que não nos acostumamos com a dureza dessas despedidas. Tivemos de redesenhar a vida depois de tantas perdas e lacunas que foram surgindo em nossa história pessoal, familiar, comunitária e social. Experimentamos a saudade como dor e sofrimento a nos abraçar em vez daqueles que se foram, estão ausentes e não nos abraçam mais, nunca mais.
Dia após dia, temos de viver nos precavendo, pelo menos enquanto a vacina não existe.
Aliás, a pandemia em pleno século XXI, nos faz ávidos de muitas outras coisas além da vacina. Somos testados para a paciência, a confiança, a solidariedade e a capacidade criativa para não nos sucumbir totalmente. Ronda sobre a nossa cabeça o risco da segunda onda da COVID-19, o risco do colapso na saúde, o medo da escassez no fornecimento de alimentos etc. O modo de vida em casa, com a família ou distante dela, o afastamento social no trabalho, a realidade nova pelo “Home Office”, o desafio do estudo à distância, a ausência do lazer, enfim, tudo exige
repaginação urgente.
Como se não bastassem as incertezas que a doença nova e desconhecida nos causam, outras são fabricadas pelas lideranças políticas – ou falsas lideranças – que fazem pesar sobre os ombros de tantos dor e desespero, por falta de tato, sensibilidade ou por maldade mesmo. Portanto, o ambiente pandêmico tornou-se favorável para a disputa de dividendos políticos de inescrupulosos que minimizam a inteligência popular. A batalha travada pela ciência, cuja
missão é descobrir a imunização da peste, tornou-se uma batalha da vacina, com posturas ideológicas e populistas. Por sua vez, a postura dos autênticos líderes do povo, agindo com respeito e dignidade, seria a demonstração sensível de compromisso com a vida, jamais menosprezando a dor e o sofrimento alheios. O que a sociedade de bem espera: coalisão, governabilidade e transparência.
Aos finados resta-nos orar: “Requiescat in Pace”; “Rest in Peace”; “Que ele/ela descanse em paz”, ou simplesmente RIP.