Finados em tempo de pandemia
O Dia de Finados está impregnado de um profundo sentimento religioso no qual se misturam afeto e recordações familiares com a fé e esperança cristãs. Por esse motivo suscita, na dor, esperança na vida do povo de Deus. É uma oportunidade especial para rezar pelos nossos mortos e lembrar a alegre verdade sobre a qual está fundada a nossa fé: a RESSURREIÇÃO.
Neste ano, por causa da pandemia e pelos mais de cento e setenta mil mortos no Brasil e mais de um milhão no mundo, somos chamados a compaixão por tantos familiares, amigos, membros da comunidade, que não tiveram o direito de ter um velório e uma despedida.
A CNBB pediu que fizéssemos alguns gestos de solidariedade, para não perdermos a memória destes nossos irmãos que nos deixaram. Entre os gestos, tem nos convidado a plantarmos uma árvore em homenagem a eles.
Apesar dos profissionais do SUS e a gentes de saúde, médicos, enfermeiros, profissionais de limpeza, terem dado a vida em favor do povo; no Brasil, temos sofrido pela desorganização do Governo Federal ao cuidar dos enfermos. Embora haja sofrimento, nosso povo continua valente, com fé e esperança em dias melhores. A vacina poderá ser a salvação para nosso povo.
Tenho sempre a impressão de que o cristão que crê na Ressurreição tem mais facilidade para superar a morte do que quem não crê. Imagino isso por pelo menos dois motivos:
O primeiro motivo é que nós acreditamos em Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou, que durante a sua vida já professava a ressurreição dos mortos. Diz São Paulo: “Se o Cristo morreu e não ressuscitou, vã é nossa fé” (Cf. 1Cor 15,14). Mas nós acreditamos na ressurreição, graças a Jesus Cristo. Vivemos na esperança, de um dia, encontrarmos o Deus da Vida e os nossos irmãos já falecidos. Após a morte teremos vida plena e conheceremos tudo e todos com totalidade e na sua essência. Viveremos a vida plena, onde ninguém mais vai chorar, sofrer ou ficar triste. Será a plena alegria!
O segundo motivo é que o cristão encontra na comunidade cristã a solidariedade entre os que vivem e professam a mesma fé. A solidariedade, a presença amiga, a oração comum, a partilha do sofrimento com a(o) irmã(o), é algo que nos alivia e fortalece. “O sofrimento, quando é partilhado se torna mais leve”. Por isso, é possível, com menos dificuldade, quem perdeu um ente querido levantar a cabeça e enfrentar a vida novamente.
Toda pessoa aprende a superar a morte. O tempo é o melhor remédio, ele foi feito por Deus, para que a nossa ferida vá sendo curada e cicatrizada. Mas a experiência da morte não pode ficar nela mesma, temos que tirar uma lição do sofrimento. E essa lição deve servir para o crescimento pessoal e para o crescimento de toda a comunidade, pois não somos desligados uns dos outros. Somos solidários. Estamos no mesmo SOLO, partilhamos o mesmo chão, e um é com-SOLO para o outro. A experiência, que fazemos da morte, deve nos levar a sermos diferentes com as pessoas: mais amáveis, mais solidários, mais comprometidos, mais humildes.
Quantas pessoas moram conosco, anos e anos, e nós só as valorizamos após sua morte. Nem sempre damos atenção, tempo, amor, carinho. Valorize-as já. Diz a nossa fé, que pela morte perdemos um irmão na terra, mas ganhamos um intercessor junto a Deus.
A visita aos cemitérios não deve se reduzir em levar flores aos túmulos, ou acender velas. Convém rezar pelos nossos mortos. É a melhor flor. A Bíblia garante: “É santo e piedoso costume rezar pelos mortos” (2Mc 12,45)
Cemitério significa dormitório. É o lugar de repouso, de descanso. Quem está sepultado ali, está como que dormindo, aguardando o dia de se levantar, para ressuscitar. Outro significado para cemitério é o de hospedaria. É um albergue à beira do caminho, onde o peregrino passa algumas horas, ou uma noite, para depois continuar a viagem. O cemitério é a hospedaria onde ficamos por um espaço de tempo, até o dia da Ressurreição.
Apensar da pandemia e de tantas mortes, que o Dia de Finados reforce a nossa esperança cristã e nos leve a proclamar com firmeza o artigo de fé do Credo: “Creio na ressurreição dos mortos e na vida que há de vir. Amém”.
Dom Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC
Bispo Diocesano de Registro