Por que polemizar uma Campanha de Fraternidade?

Por que polemizar uma Campanha de Fraternidade?

Na quaresma a Igreja do Brasil, em todos os anos, nos propõe a Campanha da Fraternidade. O próprio nome já diz “Campanha da Fraternidade”: tem o objetivo de buscar a fraternidade entre os irmãos e irmãs, que vivem a fé em Deus.

A Igreja, através de seus pastores, os bispos, sempre apresenta um tema que seja grande importância para a vida do povo de Deus e do qual se faz necessária conversão. Assim aconteceu com outras Campanhas, desde 1964: chamando a atenção da sociedade para o valor da saúde, dos indígenas, dos negros, o cuidado com a natureza, a preocupação com a violência…

Creio que nenhuma das Campanhas da Fraternidade teve 100% da aprovação da sociedade, pois os temas refletidos são para que nos posicionemos ou a favor de Cristo e de seu Reino ou contra. Todos sabemos que tem muita gente que está contente com a vida que leva, sem nenhuma preocupação com a conversão e com o seguimento de Jesus.

Neste ano, a Igreja nos chama a atenção para o diálogo e unidade em Cristo. Diálogo é falar e ouvir. Mais do que falar, é ouvir o que Cristo tem a nos dizer em seu Evangelho, em especial, para este tempo de polarização, onde as pessoas expõem o que pensam nos meios de comunicação e agridem aqueles que pensam diferente. Tempo em que se considera quem pensa ou age diferente, como inimigo. Pior ainda do que isso, é pensar que o inimigo deve ser eliminado. Tempo em que parece voltar a lei de Talião, anterior ao Evangelho, a “do olho por olho e dente por dente”.

É neste contexto, que creio que o Espírito Santo iluminou os bispos reunidos em assembleia, para escolherem o lema “Cristo é a nossa paz, do que era dividido, fez uma unidade” (Cf. Ef. 2, 14a), e o tema: “Fraternidade e diálogo, compromisso de amor”. Ao falar de unidade e diálogo, a Igreja dá um passo profético, fazendo a Campanha da Fraternidade de forma Ecumênica e mostrando que é a primeira a esforçar-se no diálogo com o diferente.

Estabelecer diálogo com o diferente, era a maneira de Jesus evangelizar. Senta-se com a samaritana a beira do poço de Jacó (Cf. Jo. 4, 6-7); se aproxima da mulher que seria apedrejada por ser encontrada em fragrante adultério (Cf. Jo, 8, 1-11); chama para Mateus, um pecador público, para segui-lo (Cf. Mt. 9, 9-13); pede para fazer a refeição na casa de Zaqueu, o pecador (Cf. 19, 1-10); ensina que não veio para os sãos, mas para os enfermos, não veio para os justos, mas para os pecadores (Cf. Mt. 9,11-13); ensinou a ir ao encontro da ovelha perdida (Cf. Lc. 15); na hora de sua morte acolhe o ladrão no Paraíso (Cf. Lc. 23,43). A unidade não está naqueles que pensam igual ou diferente de mim, a unidade está em Cristo, Ele fez e faz a unidade.

No texto base da Campanha da Fraternidade, são citados diversos grupos de pessoas marginalizadas em nossa sociedade. Neste mesmo texto, são colocadas estatísticas de violência contra estas minorias. A única coisa que o Conselho das Igrejas Cristãs (CONIC) pede é o diálogo, o amor e a vida para os que são diferentes. Creio que Jesus teria a mesma postura para com eles.

Diante da polêmica que se levanta sobre a Campanha da Fraternidade eu me pergunto: este grupo que gera polêmicas é um grupo grande ou um grupo pequeno que faz bastante barulho? É importante lembrar que estas poucas pessoas, todos os anos, procuram polemizar a Campanha da Fraternidade, sem olhar todo bem que ela faz, reduzindo-se a buscar erros e defeitos que possam existir. A preocupação deste grupo pequeno é com a lei ou com a Misericórdia? É um grupo cristão de verdade ou é apenas um grupo “igrejeiro”?

Diante destas questões, penso que a Igreja tem uma missão muito importante de evangelizar, no sentido estrito da palavra. A Doutrina é importante para compreendermos a nossa fé, porém, não podemos ficar só na Doutrina, pois tem muitos católicos Doutrinados, mas não evangelizados. O Evangelho deve nos tornar mais humanos e santos. A Doutrina pela doutrina, pode fechar o nosso coração e nos tornar conhecedores orgulhos e donos da verdade, como o fariseu que rezava diante do altar e desdenhava o publicano que rezava de joelhos reconhecendo o seu pecado (Cf. Lc. 18, 9-14).

A Campanha da Fraternidade de 2021 chama a todos, para crescermos na unidade e no diálogo fraterno. Vamos apoiar, participar e assumir como um dom de Deus para este tempo polarizado e difícil em que vivemos. E que as Igrejas nos ajudem a sermos cada dia mais cristãos.

 

Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC
Bispo Diocesano de Registro.