Tempo Comum ou tempo de crescimento do Reino
por Dom Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC
Bispo Diocesano de Registro.
A vida é sempre movimento, o tempo não para e os acontecimentos são constantes. A vida é marcada por momentos alegres, tristes e comuns, o que chamamos de dia a dia, ou de cotidiano.
É nesta realidade que se inserem os tempos litúrgicos, que nos fazem mergulhar nos mistérios da vida de Jesus Cristo. Os mistérios da vida do Senhor são tão grandes que não conseguimos abarcá-los em nossa pequenez, por isso precisamos refletir “a conta gotas”, em partes, para nos aprofundarmos com o tempo.
O grande desafio da liturgia é ajudar o povo de Deus a acolher o mistério da vida de Jesus Cristo na sua vida pessoal, humana e real. É como se o mistério de Cristo envolvesse o mistério de nossa vida humana e, o mistério de nossa vida se embrenhasse nos mistérios da vida de Cristo. Assim a vida Cristo, com todos os seus mistérios, fortalece a vida humana e nos ajuda a caminhar com mais firmeza no cumprimento da vontade de Deus. Creio que este seja o grande desafio de nossas celebrações litúrgicas: viver o mistério da vida de Cristo, no mistério de nossa própria vida cotidiana.
A vida de Cristo foi marcada por momentos simples, por momentos de dores e de alegrias. Como não lembrar das bodas de Caná, quando Jesus realiza o seu primeiro sinal? Como esquecer os sofrimentos no Horto das Oliveiras, a condenação e a morte de Jesus? Foram momentos fortes que a liturgia procura expressar nos tempos litúrgicos da Semana Santa e da Páscoa.
Ao iniciar o ano litúrgico, temos o tempo do Advento que marca a espera alegre do Senhor que irá nascer, o tempo de Natal, que celebra alegria do nascimento do Senhor e todo o seu mistério da Encarnação e manifestação do Menino Jesus em nosso meio. O tempo da Quaresma, nos mostra o sofrimento e preparação dolorosa, mas firme, para a doação da vida do Senhor que nos salva. Este tempo, culmina com a Semana Santa. O tempo Pascal nos conduz à celebração do mistério da Ressurreição do Senhor e desperta em nós a confiança cada vez maior de que a vida sempre vence a morte e que Deus não abandona seus filhos.
E o tempo comum? Esse é o tempo mais longo da liturgia. São 34 semanas de Tempo Comum, divididas em dois momentos: o primeiro, após o tempo do Natal até a Quaresma e o segundo depois do Tempo Pascal até o Advento.
Alguns podem cair na tentação de pensar: “É comum mesmo, não é tão importante!” Aí que podemos nos enganar, pois, este tempo nos mostra claramente quem é Jesus, quais os seus ensinamentos, seus gestos, suas palavras, sua ação e como nós podemos viver o que ele nos ensina.
Se olharmos para a nossa vida, temos também tempos de festa, de alegria, de sofrimentos e de dores, mas a maior parte da vida é tempo comum. Nas festas as pessoas se enfeitam, se preparam, e nunca mostram que são de verdade. Meu pai dizia que “é só comendo um quilo de sal com uma pessoa, que nós a conheceremos”. É no dia a dia que conhecemos as pessoas e nos damos a conhecer. No dia a dia provamos se vale a pena nossa vida, nossos sonhos e ideais. É no tempo comum, que somos o que somos. Neste tempo, aprendemos a ser o que o Senhor nos ensina.
Portanto, aproveitemos deste tempo comum, guiados pelo Evangelho de São Mateus, para conhecermos melhor a Jesus e segui-lo mais de perto. Assim contribuiremos no crescimento do Reino de Deus.